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A vida é TREMENDA: Um até logo ao professor Mauro Sérgio Fernandes Argento

 

Mauro se foi, depois de mais uma de suas batalhas. Um verdadeiro Don Quixote.
Meu primeiro encontro com ele foi ao final de 1993, quando terminava meu mestrado no Instituto Militar de Engenharia. Alto, forte, com um sorriso franco e muito irreverente, me ensinou a conhecê-lo e, por fim, a ama-lo.

Estávamos iniciando um período, que muito mais tarde, chamaríamos da corrente geoinformacional, completamente divididos entre um mundo analógico e o esforço hercúleo da digitalização de dados espaciais. Naquela época, Mauro já defendia o uso do

Sensoriamento Remoto em estudos voltados a inventários, diagnósticos e monitoramentos. Tudo era muito novo e, ao mesmo tempo, difícil.

Me convidou, sempre generoso, a conhecer a sua sala no departamento de geografia da UFRJ. A mesma que hoje chamo de minha.

Aquela sala ficava no laboratório de Geomorfologia Costeira, Fluvial e Submarina, que coordenava de forma colaborativa com os professores Jorge Marques, Dieter Muehe e Sandra Batista.

Mauro Argento em trabalho em Sepetiba.

Todo esforço de aquisição de imagens de satélite era algo inimaginável para as gerações atuais. Era muito comum precisarmos ir de carro a São José dos Campos, no INPE, para resolver questões relativas a dados, hardware e software, o que fazíamos como uma aventura prazerosa.

Já naquele momento outros colegas como Rafael Barros, agora também professor na UFRJ, Raul Vicens, na UFF e Carlos Portela, na Petrobras, compartilhávamos o pensar, e construir, soluções metodológicas baseadas em Sensoriamento Remoto.

Olho para traz e vejo, e reconheço, quantos de nós passamos por sua orientação e agora estamos profissionalmente alocados em grandes instituições, como as universidades públicas, a Embrapa, o IBGE e a Petrobras. Um lindo legado.

Sabemos que este feito não é tão incomum em nosso meio, mas Mauro tinha o dom de fazer tudo isso com um prazer e uma irreverência rara. Mais do que ensinar conceitos e técnicas, Mauro gostava de ensinar a viver, fazendo-nos experimentar pequenos prazeres. Hoje penso que ele era mestre em nos fazer sair da zona de conforto. E isto é ótimo.

Campo em Sepetiba. Na frente: Mauro e suas filhas, Roberta (ao meio) e Carla. Em segundo plano Selma, Carla Madureira, Carlos Portela e Cláudio Reis. Atrás Raul Vicens e Nilson.

Foram muitas as experiências compartilhadas, desde a fotografia (afinal toda ilustração que levávamos para os congressos era na forma de slides), as atividades riquíssimas de campo e o processamento de dados e estatística (sua outra paixão).

Nunca conheci ninguém com tantas historias inacreditáveis. Aliás, entre nós sempre pairava o sentimento que o exagero vinha para fazer com que tudo ficasse mais divertido. Podia demorar, mas todas as histórias acabavam se comprovando.

Mauro Argento e Jorge Marques, em trabalho de campo.

Ao longo de minha vida tive o prazer de ter tido a oportunidade de ser seu braço direito, poder segurar a barra quando adoeceu e acabou sendo obrigado a se aposentar, e podendo contar com sua presença nos momentos mais importantes de minha trajetória.
Mauro sempre me deu oportunidade de viver desafios, mesmo sendo uma jovem mãe. E olha que não foram poucos.
Mauro se vai mas deixa um legado imenso através de sua esposa, filhas e netos e nas digitais de um laboratório que cresceu e se desenvolveu, e cuja sala leva seu nome.

É preciso terminar, mas é difícil.
A vida sempre deu muitos desafios para ele, e isto desde a tenra idade com a poliomielite. Mas ele nunca se abateu, muito pelo contrário. Entre nós aprendemos a brincar de comentar que por onde passava as pessoas deviam acreditar que papai Noel existia de fato, só que era alto, risonho, de olhos verdes e tinha uma perna mais curta.

Festa no Laboratório de Sensoriamento Remoto, UFRJ.
Mauro Argento, Rafael Barros, Manoel Fernandes, Carlos Portela, Paulo Menezes e Carla Madureira, UFRJ.

Mauro deixa saudades.

Agradeço muito a oportunidade de ter aprendido com ele muito mais que o Sensoriamento Remoto. Fazendo minhas reflexões vejo que esta jornada foi um verdadeiro curso sobre ENSINA-ME A VIVER.

Estou segura que em algum lugar tudo esteja mais divertido agora.
Mauro, vou tentar nunca esquecer como a vida é TREMENDA.

 

Carla Madureira Cruz
E toda a trupe do Laboratório ESPAÇO de SR, com especial carinho do Rafa e da Beth, embora é seguro que Raul e Portela assinem este texto também.
Em nome do Departamento de Geografia, obrigada pelo legado.

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